terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Aborto

Uma matéria de um Portal da Internet, chama a atenção: 'Sou plena feliz e existo porque minha mae nao optou pelo aborto' diz jornalista com microcefalia . Mas pelos comentários, sinto que várias pessoas não entenderam porque a matéria foi publicada, pelo menos não como eu entendi.
Vários comentários dizendo que a microcefalia dessa garota não era causada pelo Zika virus e que por isso os sintomas eram muito mais brandos. Logo não era um bom exemplo.
O que trata a matéria, seja a opinião do jornalista, da empresa ou uma solicitação do governo, é apenas a discussão do aborto motivado pelo julgamento de que a criança não esta em estado perfeito. Mas creio que o assunto vá bem além. O de uma mulher, que também deveria ser incluído a decisão do pai, deveria sim ter a opção de abortar, caso soubesse que não iria dar o devido cuidado a criança.
Que bom que ela foi abençoada por uma família que teve condições de dar educação e  suporte para que ela se desenvolvesse e pudesse se tornar independente na vida adulta. Mas não é toda a família que tem condições financeiras e emocionais.  Temos vários exemplos pelo Brasil de crianças que depois de nascer foram totalmente largadas na vida.
Postei um comentário: 'Sou infeliz e frustrado, não era nem desejado pela minha própria mãe e quase todo dia penso em como me matar. Fui dado para adoção quando criança e existo porque minha mãe não optou pelo aborto.'. Claro que é exagero, afinal  pobre não tem como optar pelo aborto, legalmente. Sou pai de uma menina que felizmente, depois de meus 20 e muitos anos, me deu a alegria de estar vivo. Conhecendo os dois lados da moeda, o de amar uma criança incondicionalmente e o de não ser desejado pelos meus pais. Sinceramente acho que quem não acha que esteja apto a educar uma criança, seria melhor fazer um aborto. Antes que se torne uma vida de fato.
Se quer falar que a rejeição de um bebê, por exemplo com microcefalia, é errado de acordo com as palavras de Deus. Ok siga sua fé.  Mas rejeitar um filho adolescente por não ter se encaminhado na vida de acordo com seus padrões, é correto?


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Botijao II

    Diante de tantas dificuldades, Zilda sempre ouvia o governo prometer melhor assistência às famílias humildes. Mas para ela, era apenas um recurso para troca de interesse. Pois nunca viu nenhuma ajuda do governo para pessoas que trabalhavam duro. Sabia de raras ocasiões onde a pessoa auxiliada participou de boca de urna nas eleições ou qualquer tipo de relação direta ou indiretamente com um governante. Mas Um dia, ela tentou colocar seus filhos numa creche pública e sua suspeita só aumentou. Era tanta burocracia, tanto lugar para ir, para esperar que um dia, alguém ligue oferecendo uma vaga. Onde pais com determinado perfil tinham preferência em relação a outros sendo que os maiores interessados seriam as crianças.  Aquilo, para ela,  pareceu ser daquele jeito, muito mais para dificultar o acesso ao serviço para quem realmente precisa. Não tinha ajuda do governo, da família, nem de vizinhos. Só ela e seus dois filhos. A tensão do dia-a-dia já havia tomado conta da sua vida. 
    Um Sábado de manhã cedo, Zilda já estava de pé para deixar tudo arrumando para seus dois filhos. Pois precisava trabalhar e deixaria as crianças sozinhas em casa pois não havia ninguém para cuidar, Gustavo de três anos e João de Quatro. Arrumava a casa e fazia o café e o almoço com o pouco que tinha.  Acordou seus filhos, arrumou-os e foi trabalhar.
    Duas Crianças sozinhas em casa, com 3 e 4 anos. Não se sabia quem estava responsável por quem. João se sentia responsável por ser o mais velho. Mas a verdade era uma só, se tratava apenas de uma criança que ainda não sabia cuidar nem de si próprio. Eram duas crianças, uma cuidando da outra, apenas isso.  Frio, fome ou medo tudo que se passava com aqueles meninos, tinham apenas um ao outro como refúgio.
    A tarde já estava chegando. Mas já haviam comido o pouco que sua mãe tinha deixado pronto. E a fome já apertava. Abriram a geladeira e viram que havia apenas uma caixa com 12 ovos e uma caixa com um pouco de leite. Dividiram o pouco que havia na caixa de leite, torcendo para que a fome passasse. Mas já haviam comido muito pouco durante o dia. E resolveram cozinhar um ovo. Duas crianças sozinhas mexendo com o fogão poderia não acabar bem. Não se sabe, se foi uma intervenção divina. Mas quando João pegou a caixa de ovos na geladeira, ela escorregou de sua mão.
    Ao ver a caixa caída no chão. Sabiam que a mãe deles não iria aceitar tal situação e se lembraram de outros episódios em que deixaram ela irritada. Tinham que pensar numa alternativa para escapar das palmadas. Limparam a sujeira com um pano e esconderam o pano atrás do botijão de gás. Não é uma ideia muito esperta, porem vindo de duas crianças de 3 e 4 anos, não podia se esperar muito. Os dois garotos fizeram um pacto para não falar o que havia ocorrido e assim a vida seguiu seu rumo.   
    Zilda chegou em casa, logo foi abrir a geladeira. Vendo que não havia nada foi ao mercado comprar comida para ela e seus filhos. Sempre disposta a tudo para cuidar dos seus filhos. Fez a comida e sentaram no chão da pequena casa para comer. Não havia muito assunto. Zilda estava introspectiva como de costume. Pensando no que faria da sua vida para poder dar um futuro aos dois meninos. Mas João e Gustavo pensavam no que poderia ocorrer, casa sua mãe descobrisse o pano sujo. Depois foram dormir e a noite foi tranquila mas não demonstrava o que estava por vir na vida daqueles dois meninos.
    Domingo, amanheceu e logo cedo, Zilda já estava de pé fazendo comida e arrumando a casa. Mas um cheiro estranho começava a incomodar. Deu uma olhada na geladeira para ver havia algo podre mas como na noite anterior a geladeira continuava vazia. Deu uma rápida olhada na casa da casa para ver se os meninos haviam esquecido um prato pela casa, mas não encontrou nada. Então deixou para lá e o dia seguiu até o anoitecer.
    Eram oito horas da noite, o cheiro ficou muito mais forte, insuportável. Tomou conta da pequena casa daquela família. Aí então, pensou que podia ser um bicho morto em torno da casa. Ela acendeu uma vela e foi procurar ao redor da casa. Mas novamente não encontrou nada. E os dois pobre meninos estavam tremendo de medo que Zilda descobrisse o que havia acontecido. Já estavam se preparando para o pior.
    Zilda impaciente, já havia perguntado aos seus filhos se sabiam o que estava acontecendo, tinha vasculhado a casa inteira e nada. Então começou a mover moveis, geladeira, fogão até chegar no botijão onde encontrou o pano sujo. Zilda começou a ficar vermelha de tanta raiva pois já sabia o que havia ocorrido. Quando olhou para os meninos. Os dois simultaneamente começaram a chorar tão alto  que dava para ouvir na casa dos vizinho. Mas de nada adiantou, eles nunca se importaram mesmo. Como se estivesse possuída foi buscar um cinto pendurado atrás da geladeira. Bateu tanto nos dois filhos que ficaram com as costas, coxas e  mão marcadas. Ela nunca havia batido tanto naqueles meninos. Não sabia se se sentia bem por ter descarregado o seu estresse acumulado do dia dia ou de sentia remorso pelo que havia feito com suas crianças. E sabia que as marcas deixadas naquele dia iriam demorar a sumir.