Diante de tantas dificuldades, Zilda sempre ouvia o governo prometer
melhor assistência às famílias humildes. Mas para ela, era apenas um
recurso para troca de interesse. Pois nunca viu nenhuma ajuda do governo
para pessoas que trabalhavam duro. Sabia de raras ocasiões onde a
pessoa auxiliada participou de boca de urna nas eleições ou qualquer
tipo de relação direta ou indiretamente com um governante. Mas Um dia,
ela tentou colocar seus filhos numa creche pública e sua suspeita só
aumentou. Era tanta burocracia, tanto lugar para ir, para esperar que um
dia, alguém ligue oferecendo uma vaga. Onde pais com determinado perfil
tinham preferência em relação a outros sendo que os maiores
interessados seriam as crianças. Aquilo, para ela, pareceu ser daquele
jeito, muito mais para dificultar o acesso ao serviço para quem
realmente precisa. Não tinha ajuda do governo, da família, nem de
vizinhos. Só ela e seus dois filhos. A tensão do dia-a-dia já havia
tomado conta da sua vida.
Um Sábado de manhã cedo, Zilda já estava de pé para deixar tudo
arrumando para seus dois filhos. Pois precisava trabalhar e deixaria as
crianças sozinhas em casa pois não havia ninguém para cuidar, Gustavo de
três anos e João de Quatro. Arrumava a casa e fazia o café e o almoço
com o pouco que tinha. Acordou seus filhos, arrumou-os e foi
trabalhar.
Duas Crianças sozinhas em casa, com 3 e 4 anos.
Não se sabia quem estava responsável por quem. João se sentia
responsável por ser o mais velho. Mas a verdade era uma só, se tratava
apenas de uma criança que ainda não sabia cuidar nem de si próprio. Eram
duas crianças, uma cuidando da outra, apenas isso. Frio, fome ou medo
tudo que se passava com aqueles meninos, tinham apenas um ao outro como
refúgio.
A tarde já estava chegando. Mas já haviam comido o pouco que sua mãe
tinha deixado pronto. E a fome já apertava. Abriram a geladeira e viram
que havia apenas uma caixa com 12 ovos e uma caixa com um pouco de
leite. Dividiram o pouco que havia na caixa de leite, torcendo para que a
fome passasse. Mas já haviam comido muito pouco durante o dia. E
resolveram cozinhar um ovo. Duas crianças sozinhas mexendo com o fogão
poderia não acabar bem. Não se sabe, se foi uma intervenção divina. Mas quando João pegou a caixa de ovos na geladeira, ela escorregou de sua mão.
Ao ver a caixa caída no chão. Sabiam que a mãe deles não iria aceitar
tal situação e se lembraram de outros episódios em que deixaram ela
irritada. Tinham que pensar numa alternativa para escapar das palmadas.
Limparam a sujeira com um pano e esconderam o pano atrás do botijão de
gás. Não é uma ideia muito esperta, porem vindo de duas crianças de 3 e 4
anos, não podia se esperar muito. Os dois garotos fizeram um pacto para
não falar o que havia ocorrido e assim a vida seguiu seu rumo.
Zilda chegou em casa, logo foi abrir a geladeira. Vendo que não havia
nada foi ao mercado comprar comida para ela e seus filhos. Sempre
disposta a tudo para cuidar dos seus filhos. Fez a comida e sentaram no
chão da pequena casa para comer. Não havia muito assunto. Zilda estava
introspectiva como de costume. Pensando no que faria da sua vida para
poder dar um futuro aos dois meninos. Mas João e Gustavo pensavam no que
poderia ocorrer, casa sua mãe descobrisse o pano sujo. Depois foram
dormir e a noite foi tranquila mas não demonstrava o que estava por vir
na vida daqueles dois meninos.
Domingo, amanheceu e logo cedo, Zilda já estava de pé fazendo comida e
arrumando a casa. Mas um cheiro estranho começava a incomodar. Deu uma
olhada na geladeira para ver havia algo podre mas como na noite anterior
a geladeira continuava vazia. Deu uma rápida olhada na casa da casa
para ver se os meninos haviam esquecido um prato pela casa, mas não
encontrou nada. Então deixou para lá e o dia seguiu até o anoitecer.
Eram oito horas da noite, o cheiro ficou muito mais forte,
insuportável. Tomou conta da pequena casa daquela família. Aí então,
pensou que podia ser um bicho morto em torno da casa. Ela acendeu uma
vela e foi procurar ao redor da casa. Mas novamente não encontrou nada. E
os dois pobre meninos estavam tremendo de medo que Zilda descobrisse o
que havia acontecido. Já estavam se preparando para o pior.
Zilda impaciente, já havia perguntado aos seus filhos se sabiam o que
estava acontecendo, tinha vasculhado a casa inteira e nada. Então
começou a mover moveis, geladeira, fogão até chegar no botijão onde
encontrou o pano sujo. Zilda começou a ficar vermelha de tanta raiva
pois já sabia o que havia ocorrido. Quando olhou para os meninos. Os
dois simultaneamente começaram a chorar tão alto que dava para ouvir na
casa dos vizinho. Mas de nada adiantou, eles nunca se importaram mesmo.
Como se estivesse possuída foi buscar um cinto pendurado atrás da
geladeira. Bateu tanto nos dois filhos que ficaram com as costas, coxas e
mão marcadas. Ela nunca havia batido tanto naqueles meninos. Não sabia
se se sentia bem por ter descarregado o seu estresse acumulado do dia
dia ou de sentia remorso pelo que havia feito com suas crianças. E sabia
que as marcas deixadas naquele dia iriam demorar a sumir.