Quando me tornei adulto, já era de se esperar que eu me
tornasse problemático. Mas no auge da minha ingenuidade, achei que me
reaproximando da minha amada Mãe, meus problemas estariam resolvidos. Então fui
atrás de informações para entrar em contato. Entrei em contato e fui
encontra-la no endereço informado.
Antes de encontrá-la, dentro do ônibus, imaginava como se
fosse uma cena de novela. Onde de fundo toca uma música triste da Celine Dion e
mãe e filho correndo em sentido contrário até se abraçarem, sem saber se chora
ou se ri de tanta felicidade. Mas não foi isso que aconteceu.
Acordei desse delírio quando o ônibus chegou ao terminal. Ao
descer do ônibus, ela já estava me esperando, reconheci na hora. Ao invés de
uma cena de novela, pareceu mais um desenho animado com personagens que vivem
em mundos totalmente diferentes. Como se fosse o encontro Goku do Dragon Ball Z
e a Monica das revistinhas do Maurício de Souza. Sem afinidade nem sintonia
alguma. Deu até para ouvir o grilo cantando.
Passado o primeiro constrangimento. Todos se sentaram
envolta de uma mesa: eu, Amada Mãe, meu irmão, primos e tias. Aí lá vem a Amada perguntar, com um enorme sorriso no rosto, se eu lembrava de uma
história com o botijão. Fui adotado com
três anos de idade, é óbvio que não me lembro de muita coisa. Com a resposta
negativa, aí ela deu uma gargalhada. Ao recuperar o fôlego contou a história do
botijão.
Quando eu tinha 2 ou 3 anos e meu irmão com um ano a mais.
Minha Amada mãe foi trabalhar deixando nós dois em casa. Até aí tudo bem,
família humilde, alguém tem que trabalhar, conhece os vizinhos e tal. Mas
convenhamos que deixar duas crianças sozinhas em casa, não poderia
acabar bem.
Depois de um dia de trabalho, ela voltou para casa. Dia após
dia, um cheiro desagradável tomava conta da casa. Ela achou ser um animal morto
e procurou envolta da casa, e nada. Mas quando olhou atrás do botijão de gás, lá
estava um pano sujo de ovo. Era que eu e meu irmão tínhamos deixado cair uma
caixa de ovo no chão e queríamos dar um jeito para que ela não soubesse.
Burrice né?? Tínhamos no máximo 3 e 4 anos de idade. Não se pode esperar tanto
de crianças dessa idade.
Aí com um gargalhada nada discreta, ela me contou que aquela
foi a maior surra que tomamos. Mas ela ficou visivelmente decepcionada com o
fato de eu ter me esquecido dessa história e daí que surgiram algumas
perguntas.
Por que eu
não lembrei?
Há sim, foi meio traumático. Por
isso penso eu, que esse fato foi apagado da minha memória.
Por que nós escondemos o pano sujo?
É lógico que já havíamos apanhado várias vezes anteriormente.
Porque quando vi meu pai pela primeira vez, eu fui tão emocional?
Devo ter pensado: "Me proteja".
Porque nosso reencontro foi tão apático?
Talvez porque meu inconsciente soubesse de tudo. Se fosse o Goku e se
lembrasse de tudo isso. Daria um Kamehameha na coitada da Mônica.
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