terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O Botijao


Quando me tornei adulto, já era de se esperar que eu me tornasse problemático. Mas no auge da minha ingenuidade, achei que me reaproximando da minha amada Mãe, meus problemas estariam resolvidos. Então fui atrás de informações para entrar em contato. Entrei em contato e fui encontra-la no endereço informado.
Antes de encontrá-la, dentro do ônibus, imaginava como se fosse uma cena de novela. Onde de fundo toca uma música triste da Celine Dion e mãe e filho correndo em sentido contrário até se abraçarem, sem saber se chora ou se ri de tanta felicidade. Mas não foi isso que aconteceu.
Acordei desse delírio quando o ônibus chegou ao terminal. Ao descer do ônibus, ela já estava me esperando, reconheci na hora. Ao invés de uma cena de novela, pareceu mais um desenho animado com personagens que vivem em mundos totalmente diferentes. Como se fosse o encontro Goku do Dragon Ball Z e a Monica das revistinhas do Maurício de Souza. Sem afinidade nem sintonia alguma. Deu até para ouvir o grilo cantando.
Passado o primeiro constrangimento. Todos se sentaram envolta de uma mesa: eu, Amada Mãe, meu irmão, primos e tias. Aí lá vem a Amada perguntar, com um enorme sorriso no rosto, se eu lembrava de uma história com o botijão.  Fui adotado com três anos de idade, é óbvio que não me lembro de muita coisa. Com a resposta negativa, aí ela deu uma gargalhada. Ao recuperar o fôlego contou a história do botijão.     
Quando eu tinha 2 ou 3 anos e meu irmão com um ano a mais. Minha Amada mãe foi trabalhar deixando nós dois em casa. Até aí tudo bem, família humilde, alguém tem que trabalhar, conhece os vizinhos e tal. Mas convenhamos  que deixar duas crianças sozinhas em casa, não poderia acabar bem.
Depois de um dia de trabalho, ela voltou para casa. Dia após dia, um cheiro desagradável tomava conta da casa. Ela achou ser um animal morto e procurou envolta da casa, e nada. Mas quando olhou atrás do botijão de gás, lá estava um pano sujo de ovo. Era que eu e meu irmão tínhamos deixado cair uma caixa de ovo no chão e queríamos dar um jeito para que ela não soubesse. Burrice né?? Tínhamos no máximo 3 e 4 anos de idade. Não se pode esperar tanto de crianças dessa idade.   
Aí com um gargalhada nada discreta, ela me contou que aquela foi a maior surra que tomamos. Mas ela ficou visivelmente decepcionada com o fato de eu ter me esquecido dessa história e daí que surgiram algumas perguntas.
Por que eu não lembrei?
 Há sim, foi meio traumático. Por isso penso eu, que esse fato foi apagado da minha memória.

Por que nós escondemos o pano sujo?
É lógico que já havíamos apanhado várias vezes anteriormente.

Porque quando vi meu pai pela primeira vez, eu fui tão emocional?
Devo ter pensado: "Me proteja".

Porque nosso reencontro foi tão apático?
Talvez porque meu inconsciente soubesse de tudo. Se fosse o Goku e se lembrasse de tudo isso. Daria um Kamehameha na coitada da Mônica.

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