Eram oito da noite de domingo,
estava deitado em sua cama escrevendo um texto e cheio de ideias. Com a
ventilador ligado, não aguentou o calor e decidiu pegar seu caderno e caneta saindo
para a rua.
Ao sair de casa pode observar
homens no bar discutindo sobre mulher e futebol, crianças brincando na rua,
gente apressada indo e vindo. Dava para escutar músicas de igrejas sendo
cantadas em coro e televisores ligados em programas de auditórios nas casas vizinhas.
Mas ele apenas sentou no meio fio em frente de uma casa e começou a escrever o
que lhe vinha à cabeça.
Mas enquanto escrevia, pessoas o
olhavam como se fosse um ser de outro planeta. Pareciam não entender o que
aquele homem estava fazendo. Um dos transeuntes quase esbarrou em um poste. Não
se sabe se a causa da distração era admiração ou estranhamento.
Logo à frente de onde estava
sentado, percebeu uma movimentação. Ao olhar para a janela da casa, lá estava
uma menina, olhando para ele. Porem ao perceber que foi notada, pareceu
assustada. Correu para dentro de casa, parecendo que precisava ser socorrida. Segundos
depois na sacada da casa ela juntamente com a mãe começaram a cochichar.
- ‘O que ele está fazendo aí? ’ Disse a filha.
‘Deve ser alguém que mora aqui perto.
’ Disse a mãe olhando para os lados, como se procurasse uma resposta.
‘O que será que ele está escrevendo?
’
‘Já para dentro menina. ’ Se
irritou a mãe.
Tempo passou e apareceu na sacada
da casa outro personagem. Um Homem sem camisa, visivelmente irritado por ter
sido tirado do seu sossego. Deu uma olhada para o homem sentado logo à frente
de sua casa. O encarou, como se aquele homem com caneta e papel pudesse ameaçar
a paz de sua família. Permaneceu por 5 segundos estático e voltou para casa.
E então o jovem escritor percebeu
que poderia estar correndo risco de ser interrompido por um bêbado que podia
querer dividir seus delírios. Por acreditar que encontrou alguém, na
mesma condição. Poderia ser um religioso que falaria que aquele escritor precisava
conhecer a palavra de Deus. Ou então poderia ser o homem daquela casa, querendo
saber porque não o deixou descansar confortavelmente naquele fim de tarde de domingo.
Pois realmente estava atrapalhando a
paz daquelas pessoas, não só daquela família. Pois um homem escrevendo na rua, causa mais espanto do que
um assalto. Pois aquela cena saia totalmente da caixinha em que estavam presos, acostumados a viver. Ninguém
percebia que aquele homem estava aprendendo a ver o mundo de uma nova forma. Talvez até percebiam
mas, naquela casa, podiam ter medo que sua filha, ainda ingênua, percebesse
que o mundo não era só aquilo que seus pais tinham para mostrar. Que aquela menina percebesse
que o mundo não se resume a caixinha que seus pais criaram para ela viver. Pois através da
leitura, da escrita; através da palavra, ela poderia enxergar o mundo de outra
forma.
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